José Manuel Cerqueira Afonso dos Santos (Aveiro, 2 de Agosto de 1929 — Setúbal, 23 de Fevereiro de 1987), mais conhecido por José Afonso ou Zeca Afonso, foi um cantor e compositor português.
Oriundo do fado de Coimbra, foi uma figura central do movimento de renovação da música portuguesa que se desenvolveu na década de 60 do século XX, José Afonso ficou indelevelmente associado ao derrube do Estado Novo, regime de ditadura vigente em Portugal entre 1933 e 1974, uma vez que uma das suas composições, Grândola, Vila Morena, foi utilizada como senha pelo movimento militar que instaurou a democracia, em 25 de Abril de 1974.
Foi criado pela tia Gé e pelo tio Xico, numa casa situada no Largo das Cinco Bicas, em Aveiro, até aos 3 anos (1932), altura em que foi viver com os pais e irmãos, que estavam em Angola havia 2 anos.
A relação física com a natureza causou-lhe uma profunda ligação ao continente africano que se reflectirá pela sua vida fora. As trovoadas, os grandes rios atravessados em jangadas, a floresta esconderam-lhe a realidade colonial. Só anos mais tarde saberá o quão amarga é essa sociedade, moldada por influências do apartheid.
Em 1937, volta para Aveiro onde é recebido por tias do lado materno, mas parte no mesmo ano para Moçambique, onde se reencontra com os pais e irmãos em Lourenço Marques (agora Maputo), com quem viverá pela última vez até 1938, data em que vai viver com o tio Filomeno, em Belmonte.
O tio Filomeno era, na altura, presidente da câmara de Belmonte. Lá, completou a instrução primária e viveu o ambiente mais profundo do Salazarismo, de que seu tio era fervoso admirador. Ele era pró-franquista e pró-hitleriano e levou-o a envergar a farda da Mocidade Portuguesa. «Foi o ano mais desgraçado da minha vida», confidenciou Zeca.
Zeca Afonso vai para Coimbra em 1940 e começa a cantar por volta do quinto ano no Liceu D. João III. Os tradicionalistas reconheciam-no como um bicho que canta bem. Inicia-se em serenatas e canta em «festarolas de aldeia». O fado de Coimbra, lírico e tradicional, era principalmente interpretado por si.
Os meios sociais miseráveis do Porto, no Bairro do Barredo, inspiraram-lhe para a sua balada «Menino do Bairro Negro». Em 1958, José Afonso grava o seu primeiro disco "Baladas de Coimbra". Grava também, mais tarde, "Os Vampiros" que, juntamente com "Trova do Vento que Passa" (um poema de Manuel Alegre, musicado e cantado por Adriano Correia de Oliveira) se torna um dos símbolos de resistência antifascista da época. Foi neste período (1958-1959) professor de Francês e de História na Escola Comercial e Industrial de Alcobaça.
Em 1964, parte novamente para Moçambique, onde foi professor de Liceu, desenvolvendo uma intensa actividade anticolonialista o que lhe começa a causar problemas com a polícia política pela qual será, mais tarde, detido várias vezes.
Quando regressa a Portugal, é colocado como professor em Setúbal, mas, devido ao seu activismo contra o regime, é expulso do ensino e, para sobreviver, dá explicações e grava o seu primeiro álbum, "Baladas e Canções".
Entre 1967 e 1970, Zeca Afonso torna-se um símbolo da resistência democrática. Mantém contactos com a LUAR (Liga Unitária de Acção Revolucionária) e o PCP o que lhe custará várias detenções pela PIDE. Continua a cantar e participa, em 1969, no 1º Encontro da "Chanson Portugaise de Combat", em Paris e grava também o LP "Cantares do Andarilho", recebendo o prémio da Casa da Imprensa pelo melhor disco do ano, e o prémio da melhor interpretação. Zeca Afonso passa a ser tratado nos jornais pelo anagrama Esoj Osnofa em virtude de ser alvo de censura.
Em 1971, edita "Cantigas do Maio", no qual surge "Grândola Vila Morena", que será mais tarde imortalizada como um dos símbolos da revolução de Abril. Zeca participa em vários festivais, sendo também publicado um livro sobre ele e lança o LP "Eu vou ser como a toupeira". Em 1973 canta no III Congresso da Oposição Democrática e grava o álbum "Venham mais cinco".
Após a Revolução dos Cravos continua a cantar, grava o LP "Coro dos tribunais" e participa em numerosos "cantos livres" e nas campanhas de alfabetização promovidas pelo MFA. A sua intervenção política não pára, tornou-se um admirador do período do PREC e em 1976 apoia Otelo Saraiva de Carvalho na sua candidatura à presidência da república.
Os seus últimos espectáculos decorreram no Coliseu de Lisboa e do Porto, em 1983, quando Zeca Afonso já se encontrava doente. No final desse mesmo ano, é-lhe atribuída a Ordem da Liberdade, mas o cantor recusa.
Em 1985 é editado o seu último álbum de originais, "Galinhas do Mato", em que, devido ao avançado estado da doença, José Afonso não consegue cantar na totalidade. Devido a isso, o álbum foi completado por: José Mário Branco,Helena Vieira, Fausto e Luís Represas. Em 1986, já em fase terminal da sua doença, apoia a candidatura de Maria de Lourdes Pintasilgo à presidência da república.
José Afonso morreu no dia 23 de Fevereiro de 1987 no Hospital de Setúbal, às 3 horas da madrugada, vítima de esclerose lateral amiotrófica.
Em 1994 é feita um CD duplo em homenagem a José Afonso a que se chamou "Filhos da Madrugada Cantam José Afonso". No fim de Junho seguinte, muitas das bandas portuguesas que integraram o projecto, participaram num concerto que teve lugar no então Estádio José de Alvalade, antecessor do actual Estádio Alvalade XXI.
Em 24 de Abril de 1994 a CeDeCe-Companhia de Dança Contemporanea, estreia no Teatro S. Luiz em Lisboa o Bailado Dançar Zeca Afonso com música de José Afonso e coreografia de António Rodrigues, uma encomenda Lisboa94-Capital Europeia da Cultura.
Muitas das suas músicas continuam a ser gravadas por numerosos artistas portugueses e estrangeiros. Calcula-se que existam actualmente mais de 300 versões de músicas suas gravadas por mais de uma centena de intérpretes, o que faz de José Afonso um dos compositores portugueses mais divulgados a nível mundial.
Baladas e canções (1964) Cantares de andarilho (1968) Contos velhos rumos novos (1969) Traz outro amigo também (1970) Cantigas do Maio (1971) Eu vou ser como a toupeira (1972) Venham mais cinco (1973) Coro dos tribunais (1974) Com as minhas tamanquinhas (1976) Enquanto há força (1978) Fura fura (1979) Como se fora seu filho (1983) Galinhas do mato (1985) Ao vivo no Coliseu (1983)
Lembro-me dele em várias ocasiões… A primeira vez que o vi era eu uma criança. Foi em Moçambique, no Liceu. Eu era um aluno muito novinho e ele era lá professor. Não meu, porque penso que ele só leccionava os anos terminais. Muito menos sabia, na altura, quem ele era. Sempre me deixei fascinar por pessoas ‘estranhas’… E ele era diferente de todos os outros. Raramente ia à sala dos professores. Ficava, todos os intervalos, no enorme átrio da escola a fumar, com os olhos postos no infinito… Lembro-me de o ir ver com alguma frequência. Nunca dissemos uma palavra, mas por três ou quatro vezes trocamos um olhar e um sorriso (…)
Fly! Que loucura... E nunca foste ter com ele? Nem pela "estranheza" dele? Acho que ele era um homem com muita coisa para partilhar e principalmente ENSINAR!
Hei, eu tinha uns 10 anos! :)) Mais tarde voltei a encontrá-lo... Na rádio (quando colaborava com o Humberto Boto no programa "Dois Pontos" da Rádio Comercial ), num espectáculo do Chico Buarque, num comício político... Grande HOMEM! Sim, também me arrepia e fico quase sempre com uma lágrima no canto do olho. Saudades.
:) / ...e houve um tempo em que eu sonhava com um LP (!) de colaboração entre o Jacques Brel, o Chico Buarque e o José Afonso! Ah, e com a guitarra do Carlos Paredes lá pelo meio! :))
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José Manuel Cerqueira Afonso dos Santos (Aveiro, 2 de Agosto de 1929 — Setúbal, 23 de Fevereiro de 1987), mais conhecido por José Afonso ou Zeca Afonso, foi um cantor e compositor português.
Oriundo do fado de Coimbra, foi uma figura central do movimento de renovação da música portuguesa que se desenvolveu na década de 60 do século XX, José Afonso ficou indelevelmente associado ao derrube do Estado Novo, regime de ditadura vigente em Portugal entre 1933 e 1974, uma vez que uma das suas composições, Grândola, Vila Morena, foi utilizada como senha pelo movimento militar que instaurou a democracia, em 25 de Abril de 1974.
Foi criado pela tia Gé e pelo tio Xico, numa casa situada no Largo das Cinco Bicas, em Aveiro, até aos 3 anos (1932), altura em que foi viver com os pais e irmãos, que estavam em Angola havia 2 anos.
A relação física com a natureza causou-lhe uma profunda ligação ao continente africano que se reflectirá pela sua vida fora. As trovoadas, os grandes rios atravessados em jangadas, a floresta esconderam-lhe a realidade colonial. Só anos mais tarde saberá o quão amarga é essa sociedade, moldada por influências do apartheid.
Em 1937, volta para Aveiro onde é recebido por tias do lado materno, mas parte no mesmo ano para Moçambique, onde se reencontra com os pais e irmãos em Lourenço Marques (agora Maputo), com quem viverá pela última vez até 1938, data em que vai viver com o tio Filomeno, em Belmonte.
O tio Filomeno era, na altura, presidente da câmara de Belmonte. Lá, completou a instrução primária e viveu o ambiente mais profundo do Salazarismo, de que seu tio era fervoso admirador. Ele era pró-franquista e pró-hitleriano e levou-o a envergar a farda da Mocidade Portuguesa. «Foi o ano mais desgraçado da minha vida», confidenciou Zeca.
Zeca Afonso vai para Coimbra em 1940 e começa a cantar por volta do quinto ano no Liceu D. João III. Os tradicionalistas reconheciam-no como um bicho que canta bem. Inicia-se em serenatas e canta em «festarolas de aldeia». O fado de Coimbra, lírico e tradicional, era principalmente interpretado por si.
Os meios sociais miseráveis do Porto, no Bairro do Barredo, inspiraram-lhe para a sua balada «Menino do Bairro Negro». Em 1958, José Afonso grava o seu primeiro disco "Baladas de Coimbra". Grava também, mais tarde, "Os Vampiros" que, juntamente com "Trova do Vento que Passa" (um poema de Manuel Alegre, musicado e cantado por Adriano Correia de Oliveira) se torna um dos símbolos de resistência antifascista da época. Foi neste período (1958-1959) professor de Francês e de História na Escola Comercial e Industrial de Alcobaça.
Em 1964, parte novamente para Moçambique, onde foi professor de Liceu, desenvolvendo uma intensa actividade anticolonialista o que lhe começa a causar problemas com a polícia política pela qual será, mais tarde, detido várias vezes.
Quando regressa a Portugal, é colocado como professor em Setúbal, mas, devido ao seu activismo contra o regime, é expulso do ensino e, para sobreviver, dá explicações e grava o seu primeiro álbum, "Baladas e Canções".
Entre 1967 e 1970, Zeca Afonso torna-se um símbolo da resistência democrática. Mantém contactos com a LUAR (Liga Unitária de Acção Revolucionária) e o PCP o que lhe custará várias detenções pela PIDE. Continua a cantar e participa, em 1969, no 1º Encontro da "Chanson Portugaise de Combat", em Paris e grava também o LP "Cantares do Andarilho", recebendo o prémio da Casa da Imprensa pelo melhor disco do ano, e o prémio da melhor interpretação. Zeca Afonso passa a ser tratado nos jornais pelo anagrama Esoj Osnofa em virtude de ser alvo de censura.
Em 1971, edita "Cantigas do Maio", no qual surge "Grândola Vila Morena", que será mais tarde imortalizada como um dos símbolos da revolução de Abril. Zeca participa em vários festivais, sendo também publicado um livro sobre ele e lança o LP "Eu vou ser como a toupeira". Em 1973 canta no III Congresso da Oposição Democrática e grava o álbum "Venham mais cinco".
Após a Revolução dos Cravos continua a cantar, grava o LP "Coro dos tribunais" e participa em numerosos "cantos livres" e nas campanhas de alfabetização promovidas pelo MFA. A sua intervenção política não pára, tornou-se um admirador do período do PREC e em 1976 apoia Otelo Saraiva de Carvalho na sua candidatura à presidência da república.
Os seus últimos espectáculos decorreram no Coliseu de Lisboa e do Porto, em 1983, quando Zeca Afonso já se encontrava doente. No final desse mesmo ano, é-lhe atribuída a Ordem da Liberdade, mas o cantor recusa.
Em 1985 é editado o seu último álbum de originais, "Galinhas do Mato", em que, devido ao avançado estado da doença, José Afonso não consegue cantar na totalidade. Devido a isso, o álbum foi completado por: José Mário Branco,Helena Vieira, Fausto e Luís Represas. Em 1986, já em fase terminal da sua doença, apoia a candidatura de Maria de Lourdes Pintasilgo à presidência da república.
José Afonso morreu no dia 23 de Fevereiro de 1987 no Hospital de Setúbal, às 3 horas da madrugada, vítima de esclerose lateral amiotrófica.
Em 1994 é feita um CD duplo em homenagem a José Afonso a que se chamou "Filhos da Madrugada Cantam José Afonso". No fim de Junho seguinte, muitas das bandas portuguesas que integraram o projecto, participaram num concerto que teve lugar no então Estádio José de Alvalade, antecessor do actual Estádio Alvalade XXI.
Em 24 de Abril de 1994 a CeDeCe-Companhia de Dança Contemporanea, estreia no Teatro S. Luiz em Lisboa o Bailado Dançar Zeca Afonso com música de José Afonso e coreografia de António Rodrigues, uma encomenda Lisboa94-Capital Europeia da Cultura.
Muitas das suas músicas continuam a ser gravadas por numerosos artistas portugueses e estrangeiros. Calcula-se que existam actualmente mais de 300 versões de músicas suas gravadas por mais de uma centena de intérpretes, o que faz de José Afonso um dos compositores portugueses mais divulgados a nível mundial.
Discografia de José Afonso:
Baladas e canções (1964)
Cantares de andarilho (1968)
Contos velhos rumos novos (1969)
Traz outro amigo também (1970)
Cantigas do Maio (1971)
Eu vou ser como a toupeira (1972)
Venham mais cinco (1973)
Coro dos tribunais (1974)
Com as minhas tamanquinhas (1976)
Enquanto há força (1978)
Fura fura (1979)
Como se fora seu filho (1983)
Galinhas do mato (1985)
Ao vivo no Coliseu (1983)
Tinha tudo de bom!
Bom homem, bom artista, grande revolucionário.
A sua música faz parte de nós como portugueses.
Obrigada, Zeca!
:) adoro. *
(e sou só eu a ficar de lágrimas nos olhos ao ouvi-lo...?)
Lembro-me dele em várias ocasiões…
A primeira vez que o vi era eu uma criança. Foi em Moçambique, no Liceu. Eu era um aluno muito novinho e ele era lá professor. Não meu, porque penso que ele só leccionava os anos terminais. Muito menos sabia, na altura, quem ele era. Sempre me deixei fascinar por pessoas ‘estranhas’… E ele era diferente de todos os outros. Raramente ia à sala dos professores. Ficava, todos os intervalos, no enorme átrio da escola a fumar, com os olhos postos no infinito… Lembro-me de o ir ver com alguma frequência. Nunca dissemos uma palavra, mas por três ou quatro vezes trocamos um olhar e um sorriso (…)
Obrigado, Zeca.
:)
Também me perco nas musicalidades do eca Afonso...
Vanessa, eu também fico assim... :)
Fly! Que loucura... E nunca foste ter com ele? Nem pela "estranheza" dele?
Acho que ele era um homem com muita coisa para partilhar e principalmente ENSINAR!
Hei, eu tinha uns 10 anos! :))
Mais tarde voltei a encontrá-lo... Na rádio (quando colaborava com o Humberto Boto no programa "Dois Pontos" da Rádio Comercial ), num espectáculo do Chico Buarque, num comício político... Grande HOMEM!
Sim, também me arrepia e fico quase sempre com uma lágrima no canto do olho. Saudades.
um exemplo de integridade com a voz mais bonita do MUNDO!!
:) / ...e houve um tempo em que eu sonhava com um LP (!) de colaboração entre o Jacques Brel, o Chico Buarque e o José Afonso!
Ah, e com a guitarra do Carlos Paredes lá pelo meio! :))
isso é que era!!!
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